terça-feira, 3 de junho de 2008

Almoço-convívio do 7º Ano de 1959 - 60

No último sábado de Maio, é hábito fazermos o Encontro do 7º ano de 1959 – 1960, do então Liceu Nacional de Aveiro.

Este ano, o lugar escolhido foi a Estalagem da Pateira de Fermentelos. A maior lagoa da Península Ibérica é sempre local inspirador, agradável e evocador. Pensei…vou ter oportunidade de ver se ainda por lá existem algumas lanchas ou patachas.

Claro, além de conviver com os colegas e amigos, recordar simpatias, paixonetas, derriços, “amores encobertos”, nunca revelados…, outros mal resolvidos, não sem todos sentirmos o peso, os efeitos e a experiência de mais quase cinquenta anos em cima. Meu Deus! Como o tempo passa, deixando marcas mais ou menos indeléveis!!!!

O tal passeio rentinho à Pateira aconteceu, como previa, cuidadosamente, não fosse algum de nós enfiar-se, inadvertidamente, naquela água semi-pantanosa.

Sendo-me conhecida a vertente marítima, foram-me pedidas explicações; não perdi a oportunidade de dar cartas no assunto, aproveitando para aprender mais algum pormenor com colegas oriundos daquelas bandas.

Já lá não ia desde Março/Abril de 2003, aquando da remodelação da Sala da Ria do M. M. de Ílhavo. Na companhia dos amigos Bizarro e do saudoso Francisco, o objectivo era escolher a bateira patacha que mais nos agradasse para integrar o espólio da dita Sala. E lá está, construída em 2001 por Fernando Ferreira Neves, e doada pelos Irmãos Vasconcelos.

Três lanchas – Anos 80

As ditas patachas, lanchas ou chatas são embarcações muito rudimentares, de fundo chato e costado baixo. Medem, sensivelmente, de bica a bica, 6,30 metros, 1,30 de largura no sítio da toste (banco) e 30 centímetros nas asas (tábuas do costado). O fundo é reforçado por 7 a 11 travessas a que chamam cavernas, com pequenos orifícios para esgotar a água. Podem ter meio solho móvel. Os meios de propulsão são a vara e os padejos (varas com um fundo de alcatruz aplicado em cada ponta). Transportavam pessoas, dedicavam-se à apanha de algas e ainda servem para a pesca desportiva. Há muito menos…estão a desaparecer. Também, durante o Inverno e com as chuvas que tem havido, mantêm-se submersas, pois conservam-se bastante melhor.

Dos chamados barcos, que apresentavam algumas diferenças notórias, relativamente às ditas patachas, nem um! Eram mais usados para os lados de Óis da Ribeira e Requeixo. Um pouco mais robustos que as lanchas, com um formato sensivelmente trapezoidal, rectos à ré, de proa em V aberto, já não se constroem.

Lanchas e um barco na Pateira de Fermentelos – Anos 80

Pelos anos 80, por volta do dia 25 de Agosto, recriava-se a apanha de algas na pateira, na Festa do Emigrante.
Ultimamente, tal festividade deixou de fazer sentido, assim como a recriação da apanha do moliço.

Este, como adubo de altas propriedades, e a fauna piscícola, há umas boas dezenas de anos, eram as duas grandes riquezas da pateira. Chegou a haver defeso do moliço com a duração de onze meses e cinco dias. A apanha reiniciava-se a 25 de Agosto. Há uns três anos, contou-me pessoa conhecedora, que uma praga de jacintos invadiu as águas, vendo-se a Câmara de Águeda obrigada a actuar através de uma espécie de draga sugadora, que continua a fazer a prevenção.

Quanta arte, equilíbrio e perícia eram necessárias aos seus tripulantes, para se aguentarem nestes barquinhos! Vazios…era o que era… e cheios de algas, por vezes, vinham ao charco e… que remédio senão arrastar a lancha!

Cuidado! Com carga, passageiro e tudo!

Por vezes, ia-se à água!

Foi um dia bem passado a recordar récitas, bailes, excursões, histórias e a "brincar" aos jovens, graças àquela pitadinha de criança que existe em cada um de nós.

Entretanto, apreciem bem as imagens, porque, embora não muito antigas, já pertencem ao passado.

Fotografias – Amável cedência de Paulo Miguel Godinho

Ílhavo, 3 de Junho de 2008

Ana Maria Lopes


1 comentário:

fangueiro.antonio disse...

Bom dia.

Realmente são relíquias de um passado na verdade nada distante, mas a vida dos dias de hoje não permite que sobrevivam. A vida parece que se tornou mais caótica após os anos 80, mas essa é outra conversa.
Acredito que um dia, tal como o fazem imenso na Galiza, se volte a dar vida às muitas pequenas embarcações do passado em Portugal, pois são o orgulho de comunidades e proporcionam excelentes encontros culturais. Várias vezes ao admirar o trabalho das gentes da Galiza neste aspecto, me pergunto se em Portugal "temos mais que fazer" ou simplesmente não damos valor a isto.

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