sábado, 30 de agosto de 2008

115º Aniversário de "O FAROL DE AVEIRO" (Parte II)

Parece que a luz do Farol nos norteia, também em terra, sobretudo quando gozamos férias na Costa-Nova. E quem não deu os seus passeios até lá, a pé ou de bicicleta? E quem não o subiu, na escalada dos seus 271 degraus, ou mais recentemente, de elevador, para apreciar, de perto, os tais metais polidos e “repolidos” da sua óptica reluzente? E o panorama deslumbrante, assombroso, quer da imensidão do verde prateado do mar calmo ou revolto, sob um céu azulino ou violáceo, quer da planura recortada por estradas, laguna e casario esmagado, que nos alongam a visão até ao recorte das serranias mais próximas – serra do Caramulo?
E se um nevoeiro denso, qual pano de cena, nos absorve em nós próprios, numa ambiência ensimesmada, misteriosa e acinzentada?

Com um primeiro projecto datado de 1841, vicissitudes várias fizeram com que a obra fosse apenas iniciada em 1885 e confiada ao Engenheiro Benjamim Cabral. Foi concluída em 1893, pelo Engenheiro José Maria de Mello e Mattos.


Em construção desde 1885 até 1893



Algumas curiosidades sobre o Farol de que todos nos orgulhamos:


– demorou oito anos a construir (1885 a 1893);

– a sua construção importou, sensivelmente, em 60.000$00 réis;

– tem uma torre de alvenaria de secção circular, em que foi utilizado o grés de Eirol e alguns granitos, encimada por uma lanterna cilíndrica, terminada em cúpula com cata-vento;

– inicialmente, uma trompa de Holmes de ar comprimido instalada nas proximidades do farol, constituía o sinal sonoro, para aviso à navegação, em dias de nevoeiro; conhecido pelo termo ronca, foi, ao longo dos tempos, alvo de várias transformações; hoje, é um quase imperceptível sinal sonoro;

Antigo postal, escrito, datado de 10 – 9 – 1911



– em 31 de Agosto de 1893 foi inaugurado oficialmente pelo Ministro das Obras Públicas, à época, Conselheiro Bernardino Machado;

– a 15 de Outubro do mesmo ano, fez-se ver, pela primeira vez, a sua luz, através da projecção de quatro clarões brancos, de 24 em 24 segundos, separados por eclipses;

– em 1936, foi electrificado, através da instalação de grupos electrogéneos;

– em 1947, após intervenções sucessivas de conservação, instalou-se-lhe um novo equipamento óptico, com um alcance luminoso de 23 milhas;


Farol em meados do século XX



– em 1948, foi-lhe instalado um radiofarol Marconi;

– em 1950, passou a ser alimentado pela energia da rede pública;

– em 1958, foi provido de um elevador de acesso à torre, alternativa aos seus 271 degraus graníticos;

– em 1987, esteve representado numa emissão filatélica e na Exposição “Faróis de Portugal”, tendo sido igualmente objecto de uma medalha mandada cunhar pela Direcção de Faróis;

– em 1990, foi automatizado;

– em 1993, foi alvo, em Ílhavo, de festejos de centenário, com pompa e circunstância;

– em 30 e 31 de Agosto de 2008, com alguns festejos bastante mais singelos, são lembrados os seus 115 anos de existência, pela CM. de Ílhavo;

– ao longo dos tempos, tem servido de fonte de inspiração a artistas plásticos: Amadeu Teles, em 1912, numa bonita paleta de cores envelhecidas, Eduardo Alarcão, em 1987, numa interpretação original e “naïve”, Alfredo Luz, em 1989, com um certo toque surrealista. Dele existem igualmente, registos, em azulejaria.

Licínio Pinto – 1917
Fonte Nova – Aveiro



– é o mais alto farol de Portugal e o segundo maior da Europa.


Nenhum destes argumentos foi suficiente para convencer a Marinha a integrá-lo na actual emissão de selos de doze faróis portugueses. No entanto, foi com prazer que o vi contemplado no livro sobre faróis, supra-citado, edição primorosa dos CTT.

Imagens – Arquivo pessoal da autora

Costa-Nova, 30 de Agosto de 2008

Ana Maria Lopes



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