domingo, 19 de abril de 2009

Navio-Motor Inácio Cunha - I


O “Diário da Manhã” de 18 de Abril de 1943 refere que vão ser construídos catorze navios a motor para a pesca do bacalhau, em todos os estaleiros do País, com capacidade de pesca de 254 000 quintais de bacalhau (…), bem como (nomeia) os armadores a que os novos barcos ficarão a pertencer.

Cita “O Ilhavense”, da mesma época, que é o maior empreendimento de construção naval, desde há dezenas de anos; esta nova frota, que deve estar pronta dentro de ano e meio, é patrocinada pelo Ministério da Economia que lhe dará todo o auxílio.

A mesma fonte, de 11 de Janeiro de 1945, referencia: Em 1945 a frota bacalhoeira será aumentada de algumas novas e grandes unidades. Pode contar-se como certa a incorporação do Maria Frederico e do Inácio Cunha de Testa & Cunhas Lda., que descerá na carreira, no fim do corrente mês ou em princípios de Fevereiro.


O Inácio Cunha na carreira1945


O Ministro da Economia, em colaboração com a C. R. C. B. e com o Grémio dos Armadores gizou, em 1943, um plano de renovação da frota bacalhoeira, dando facilidades aos armadores, ao mesmo tempo que as Escolas de Pesca preparavam os pescadores da geração nova.

Chegou, então, o dia festivo para o navio-motor Inácio Cunha, o dia 25 de Abril de 1945. Tudo a postos para a grande cerimónia.
Como a maré para o bota-abaixo fosse só pelas 17 horas, a empresa armadora decidira oferecer, entretanto, a cerca de 200 convidados, um lauto muito embora tipicamente regional almoço, num salão dos seus armazéns.
Na presença de todos os membros do Governo, vindos de Lisboa, das individualidades civis e religiosas, locais, dos armadores e dos muitos convidados, tiveram lugar as cerimónias da praxe, nos estaleiros da Gafanha da Nazaré: discursos, agradecimentos, bênção do navio pelo Sr. D. João Evangelista de Lima Vidal, o baptismo com o partir da simbólica garrafa de espumoso contra a roda da proa da embarcação, pela madrinha, Sra. D. Adília Marques da Cunha.

Mestre Manuel M. Mónica num discurso inflamado e a madrinha do Inácio Cunha – 1945

(…)
Finalmente, o Sr. Ministro da Economia cortou o cabo da bimbarra, mas o navio manteve-se, por algum tempo, estático. Correm pressurosos os construtores e demais pessoal, para alguns trabalhos de emergência, e, passado algum tempo, o Inácio Cunha desliza serenamente na carreira e vai, nadar, tranquilo como um cisne, nas salsas águas da Ria.
Acenam-se lenços, estalam foguetes, a música executa um número alegre e os armadores e construtores recebem os abraços e parabéns do estilo. –
refere o jornal, “O Ilhavense”, de 2 de Maio de 1945.

O novo navio-motor, um dos primeiros do tipo CRCB., construídos por Manuel Maria Mónica, na Gafanha da Nazaré, media 52,72 metros de comprimento, fora a fora, 10, 44 m. de boca e, aproximadamente, 5, 50 m. de pontal. Dispunha de todos os aperfeiçoamentos modernos, incluindo telegrafia e telefonia, belas instalações para a tripulação (69 tripulantes e pescadores e três oficiais), dispondo de 57 dóris.

A propulsão era feita por um motor Deutz de 550 H.P., deslocando-se a cerca de 9/10 milhas horárias. A tonelagem bruta era de 775,42 toneladas e a líquida, de 494,83.
Por cálculos de construção, esperava-se que viesse a carregar nos seus porões, sensivelmente, 12 000 quintais de bacalhau.


O Inácio Cunha, frente à empresa – 1945

(Cont.)

Ílhavo, 19 de Abril de 2009

Ana Maria Lopes

3 comentários:

LUIS MIGUEL CORREIA disse...

Sempre do maior interesse a história dos nossos navios e armadores de pesca.

Marieke disse...

Olá Ana
espero que tenhas passado uma boa Páscoa
Já li no teu blogue tudo o que tinha em atraso..muito aprendo
Parabéns pela partilha
Um abraço
Maria

fangueiro.antonio disse...

Boa tarde.

Repare-se que em tempos extremamente difícieis de plena II Guerra Mundial, investe-se em força na frota de pesca longínqua. Já em tempos de paz, pós 25 de Abril... investe-se no abate de navios, frotas mercantes e de pesca, estaleiros, e numa organização de pescas que pouco valor dá ao sector. Afinal, "só é pescador quem não sabe fazer mais nada". Ao que se tem visto, "só governa quem não sabe fazer mais nada" ganhou também o seu peso.

Atentamente,
www.caxinas-a-freguesia.blogs.sapo.pt