quinta-feira, 26 de janeiro de 2012

O Matola - 2

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Digo ser este desenho que efectuei o possível plano de formas do barco matola, porque na verdade foi o resultado da pesquisa que se efectuou e que nos parece a mais verdadeira. É este pois o nosso matola.



O modelo, à borda de água



Concluído o plano, dei início à construção do modelo na escala de 1/25 como é meu costume, e à medida que o barquinho aparecia, ia saltando à vista como era elegante a sua imagem.



Em situação de trabalho…



Pensei então, como tinham razão as pessoas de Mira que deles se recordam com tanta estima e saudade.
Os seus barcos, não sendo vaidosos nas cores, eram correctos de formas e bons para o trabalho que executavam devendo ser sempre recordados com o respeito que merecem.




Pormenor do interior…



Na construção do modelo deste moliceiro, como habitualmente, utilizei madeira de tola para o fundo, choupo nos costados e limoeiro no cavername, rodas de proa e de popa, bancadas e porta do leme. Fiz o mastro, a verga e os cabos dos ancinhos de ramos de ameixeira, a vela, de pano de algodão e as ferragens e fateixa, com arame de cobre. Pintei todo o costado e dragas com tinta preta sem brilho e apliquei sobre ela serradura.






Como dimensões principais temos:
 

Comprimento………. 13,50 metros

Boca………………..... 2,50 metros

Pontal……………… .. 0,45 

Número de cavernas      21



António Marques da Silva

Caxias, 24.12. 2011

Escala 1/25


Fotos – do arquivo da autora do blog 


Ílhavo, 26 de Janeiro de 2012


Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 16 de janeiro de 2012

O Matola - 1

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Era vulgarmente denominado matola, o barco moliceiro construído e usado na parte sul da Ria de Aveiro.
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No livro Moliceiros – A Memória da Ria, de Ana Maria Lopes, na pág. 63, pode ler-se que estes barcos eram construídos nos estaleiros dos Colaços de Portomar e de António Pimentel Loureiro e seu irmão João Pimentel Loureiro, por alcunha o Gadelha, nascido em 1912 no Seixo de Mira.
Hoje já não constrói, mas um seu filho que trabalhava com ele, Evangelista Santos Loureiro, nascido em 1944, estabelecido como construtor naval no Seixo de Mira, dedica-se sobretudo a bateiras e chatas para pesca.



Na traseira da Vista Alegre


Embora fosse possível estes moliceiros exercerem a sua actividade em qualquer zona da ria, era mais comum vê-los à vara ou à vela, arrastando os seus grandes ancinhos na Cale de Mira, desde as praias da Marinha Velha, Praião e Gramata, passando pela Costa Nova, Vagueira, Areão e Seixo de Mira.


Restos de um dos últimos matolas



Sendo muito parecidos com os moliceiros da Murtosa, saltava logo à vista uma principal diferença, por não terem as caras da proa e da popa decoradas.
Eram totalmente breados, tornando-se assim muito mais tristonhos aos olhos de quem os observava. Contudo na sua missão, eram tão capazes como os do norte e como eles bons de vela sendo muito frequente a competição quando seguiam nas suas grandes viagens para descarregar nas folsas de Vagos.
Além da cor, notava-se alguma diferença no lançamento da bica de proa mais alteada e na volta do papo que parecia um pouco mais alargada.
Pelas dimensões de registo que recolhemos, verifica-se que tinham normalmente menos um metro e meio de comprimento e quinze centímetros de boca. De pontal eram iguais aos seus irmãos do norte.
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Ao moliço, sem data


Para desenhar o seu possível plano de formas, utilizei além destas medidas, o maior número de fotografias que com a ajuda da boa amiga Ana Maria Lopes me foi possível observar. Além destes elementos, foi a nossa memória visual que nos deu a melhor ajuda para este trabalho.

(Cont).
Ílhavo, 16 de Janeiro de 2012

Fotos – do arquivo da autora do blog
Ana Maria Lopes
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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

Destino de um Barco do Mar - retalhos...

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O chamado de o mais belo barco do mundo por Raul Brandão, não deixou grande memória viva, entre nós.
Quando pelos anos sessenta/setenta do século passado, estes barcos do mar, de quatro remos, começaram a deixar de operar, o seu destino seria o apodrecimento, junto das praias onde foram reis e senhores.
Tal aconteceu com o Senhora do Monte, que parece ter trabalhado na Torreira, de que não há qualquer eco.


 (…) O barco tem quatro remos nos quatro bancos: o do castelo da proa, o do remo da proa, o do remo da ré e o do castelo da ré. A cada um destes pesadíssimos remos se agarram quatro homens de pé nas estorveiras que ficam nos intervalos dos bancos, seis sentados e ainda outros, os camboeiros, puxando os cambões – todos ao mesmo tempo, todos com o mesmo ritmo. O revezeiro, que ordena a saída para o mar, manda também em cada remo. Na parte mais delgada remam os caneiros, que trilham o remo e fazem a voga, ajudados pelos segundos – regista Raul Brandão, ao visitar o nosso litoral, pelos anos 20…, desde Espinho até Mira, passando pela nossa Costa Nova.

Em todo o país, resta-nos um, albergado pelo Museu de Marinha, no Pavilhão das Galeotas e sorte tive em saber algo do seu historial através de dados e imagens cedidas pelo amigo Comandante António Bento, que ainda o presenciou no areal da Torreira e que se encarregou do seu transporte para o referido Museu.
É o Sto António, construído em 1971, em Pardilhó, pelo hábil Mestre Henrique Ferreira da Costa, conhecido pelo Lavoura. Não operou mais que quatro anos – até 1975.



No areal da praia da Torreira, pelos anos 70



Dimensões – comprimento, 15,80 m; boca, 4, 38 m; pontal, 1,24 m. Matrícula A-2116-C.
Foi comprado a David da Silva por 20 000$00, em 28.4.1980 por intermédio da Capitania de Aveiro. O transporte para Lisboa importou em 10 000$00, tendo sido restaurado no Museu de Marinha em 1982. Ei-lo:





Melhor ou pior destino teve o S. Paio da Torreira, acolhido e exibido dignamente pelo Exeter Maritime Museum, depois de votado ao abandono durante uns anos, na borda da ria.



No Museu de Exeter, nos anos 90
No Museu de Exeter, nos anos 90

Com a extinção deste museu, em 1997, por falta de verbas, ainda não consegui notícias do seu rasto, se é que o tem.

Que saudades não terá o S. Paio, da companhia das abegoarias, do auxílio das juntas de bois, da admiração dos pescadores e visitantes, dos mil sóis que se punham no mar, ao entardecer, enquanto se exibia no areal imenso, encharcado por um céu azul, azul, azul.



Postal de época – Torreira


Resta-nos o areal – nem isso, já que tem sido altamente galgado e engolido pelo mar ameaçador.


Ílhavo, 9 de Janeiro de 2012


Ana Maria Lopes
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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Associação dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo (AMI)

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Actual edifício do Museu


Neste mês de Janeiro de 2012, ano em que o Museu Marítimo de Ílhavo celebra os 75 Anos da sua fundação, dedicamos a rubrica “a nossa gente” à Associação dos Amigos do Museu Marítimo de Ílhavo.

A história dos Amigos do Museu confunde‑se com a história do Museu Marítimo de Ílhavo. Os Amigos, corporizando a velha ideia de criação do “Museu dos Ílhavos”, começaram a reunir-se informalmente na redacção do jornal “O Ilhavense”, a partir de 1922, para dar início à grande tarefa!

Américo Teles, seu fundador, foi o expoente maior da corporização da ideia e das Comissões Organizadoras do Museu que trabalharam afincadamente na criação do Museu até 1937, data da inauguração.
Em 1941 é formalmente instituído o “Grupo dos Amigos do Museu” que, no entanto, só virá a ser oficializado com novos estatutos e escritura pública em 1994 sob a designação de “Associação dos Amigos do Museu de Ílhavo” (AMI).

Foram seus presidentes da direcção, Paulo Ramalheira (41/42), Ascensão da Silva Rocha (43/44), Manuel Nunes da Fonseca (47/48), Cesário da Cruz (52/57), Manuel Pio Maia Ramos (58/59), Guilhermino Ramalheira (60/70), António Sarrico Picado (70/73), Célio Salvadorinho (74/93) e, desde 1994 até à actualidade, Aníbal Machado Paião.


A Associação conta com 700 associados de muitas partes do País, de diversificadas formações e interesses socioeconómicos, tendo como objectivos principais colaborar com a Direcção no enriquecimento do acervo, na preparação de exposições, na divulgação de actividades, na edição de publicações e incentivar o interesse pela cultura ilhavense e marítima sendo absolutamente alheia a qualquer actividade sectária de índole política, religiosa ou económica. Actualmente a quota mínima anual é de doze euros.

Ao longo destes oitenta anos deve salientar-se o imprescindível papel da AMI na definição das sucessivas estratégias prosseguidas, com especial destaque para a redefinição da vocação principal do Museu, ou seja, a celebração da cultura marítima tendo por base a pesca do bacalhau e a cultura lagunar, cruzamento identitário que define a personalidade da comunidade ilhavense com a qual fazemos interface.

A construção do novo e magnífico edifício, bem como a imperiosa necessidade de uma direcção permanente e profissional, foram outras importantes causas dos Amigos.

Merecem ainda destaque o enorme e continuado enriquecimento das colecções, desde João Carlos à pintura de temática marítima, ao acervo da sala Capitão Francisco Marques, às embarcações da sala da ria, às maquetes, à instrumentação náutica, ao arquivo fotográfico e aos arquivos depositados (CRCB, Grémio, Parceria Geral de Pescarias), podendo mesmo assumir-se que os Amigos são responsáveis pela obtenção de uma parte significativa do acervo do Museu.

O projecto “De Novo na Terra Nova”, idealizado e coordenado pela AMI, em colaboração com a Embaixadora do Canadá Patricia Marsden-Dole e a Câmara Municipal de Ílhavo (e diversas outras entidades), foi outra das importantes iniciativas que ajudaram a projectar o Museu.

A AMI continua, como sempre, disponível para servir e lutar pela sustentabilidade do Museu, afinal a sua razão de ser, estando empenhada em participar activamente na construção da nova fase da vida do Museu Marítimo de Ílhavo no ano 2012.

Anterior edifício do Museu, até 2001

Fonte - Agenda “Viver em”, da CMI, mês de Janeiro

Ílhavo, 5 de Janeiro de 2012
Ana Maria Lopes
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