sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

São Gonçalinho - padroeiro das gentes da Beira-Mar

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Estão a decorrer em Aveiro, as festas de S. Gonçalinho, desde hoje a 12 do presente mês de Janeiro.*
É uma oportunidade para expressar a alegria da fé e, ao mesmo tempo, apelar à partilha e solidariedade.

Barracas de doces regionais

Segundo Conceição Lopes, professora na Universidade de Aveiro, que se tem dedicado ao estudo das festividades do Santo, trata-se de uma festa de celebração sagrada da humanização do humano. Os rituais presentes na festa, as rimas, a subversão do tempo significam um corte no dia-a-dia dominado pela racionalidade lógico-financeira. O São Gonçalinho rompe com o estigma do quotidiano e os celebrantes, de um modo genuinamente singular, reagem à estigmatização instrumental e mercantil da existência humana.
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A docente da UA destaca os rituais de S. Gonçalinho, o carácter alegre do santo, o ritual das cavacas e das danças – jovialidade e tipicismo que apreciamos.
Casamenteiro, tocador de viola, dançarino, milagreiro, resolve os encravanços do peito e limpa as verrugas da alma e outras maleitas do corpo. Enfermeiro, médico, criador de vida, contemplativo e perdoador, curador de ossos, no amor e desamor, com o seu sorriso a todos acolhe e num abraço a todos envolve.

Arranjo interior do altar
 
Crentes ou descrentes, numa altura destas, é do que estamos mesmo a precisar… São Gonçalinho nos valha. E com amigas de Aveiro, marcámos mesmo um encontro na porta lateral do templo hexagonal, para irmos atirar cavacas do cimo da capela. Uma experiência nova…oxalá corra bem e não nos lesionemos.

Encontro de amigas
 
 
O atirar das cavacas…


Inventam-se distintos versos folgazões e divertidos relativos a S. Gonçalinho:

Brincalhão e galhofeiro
Vós fostes das velhas
Devoto casamenteiro.

Ó santinho milagroso
Dai também às raparigas
Um noivinho bem formoso.
 
No lançamento das cavacas do alto da capela, «meio de pagar promessas ou encomendar alguma graça», guardadas durante o ano como símbolo de protecção, Conceição Lopes vê um símbolo de fertilidade.
Sobre a dança dos mancos, realizada secretamente no interior da capela, a professora afirma: Tomando nela parte homens saracoteando os corpos em festa, em desequilíbrios possíveis que as supostas dores de ossos e pernas soltas causam, pede-se protecção antecipada contra a doença.
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Um dos hábitos mais vincados, como já se referiu, é o pagamento de promessas ao padroeiro, sendo atirados quilos de cavacas doces do cimo da capela para o público. E, então, há que fugir delas para não ficar com a cabeça rachada ou tentar apanhá-las com variados e inventivos processos, desde capacetes, guarda-chuvas voltados ao contrário, até armadilhas de redes diversas encimadas em altas varas. Camaroeiros (ou capinetes), enxalavares (ou xalabares), nassas, são os mais engenhosos processos e os que proporcionam à assistência um mais divertido espectáculo, junto à Praça do Peixe.
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E, caros amigos, com o recurso a tantas e variadas armadilhas de pesca, não me digam que os festejos do Santo da Beira-Mar aveirense estão fora da temática do Marintimidades.

Assistência «à pesca»

É de louvar o brio com que os mordomos, todos os anos, encaram, decoram e festejam o santinho de sua grande devoção – briosa armação de ruas, concertos, fogo-de-artifício e tradicional entrega do ramo.
São sempre um marco neste Janeiro soalheiro, mas gélido, os festejos ao S. Gonçalinho.
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Fotos  da autora do blogue
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Ílhavo, 12 de Janeiro de 2013
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*Atenção, este texto e imagens são mesmo relativos à festa de 2013.
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Ana Maria Lopes
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