segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Procissão lagunar da Senhora dos Navegantes



Como já é tradição, realizou-se ontem, domingo, no Forte da Barra, Gafanha da Nazaré, a festa em honra de Nossa Senhora dos Navegantes, cujo ponto alto foi a procissão pela Ria, que antecedeu a missa, por volta das 16.30 horas.
O cortejo, com destino ao Porto Bacalhoeiro, saiu da igreja da Cale da Vila às 14 horas, tendo-se iniciado, meia hora depois, o desfile pela Ria, no qual se incorporaram os andores de Nossa Senhora dos Navegantes e outros, diversos, a Filarmónica Gafanhense, os grupos e ranchos folclóricos convidados, moliceiros e mercantéis motorizados, bem como barcos de recreio e demais embarcações piscatórias.
Foi a estreia nestas lides do moliceiro tradicional São Salvador, depois de recuperado, com nova roupagem colorida, com um grupo de amigos de bordo.
Na passagem da procissão por S. Jacinto, houve um simbólico e comovente encontro entre a população e orago locais, Senhora das Areias, encimada num altar improvisado dentro de uma bateira engalanada em arco, e a Senhora dos Navegantes. Mas, o que nos interessou mesmo e tem sempre o seu encanto foi o cortejo fluvial.
São os crentes, os simpatizantes, em todo o tipo de embarcações, das menores às mais robustas, que, com mais ou menos brio, exibem um sinal de fé, apanágio dos pescadores.
A ria, já por si bonita e fulgurante, neste dia é agitada e atormentada, na sua calmaria habitual, pelo bulício dos motores das embarcações, pelos roncos das buzinas de bordo, pelo estalejar do foguetório e pelas ovações dos populares presentes, que enchem os cais, ao longo do percurso do cortejo religioso, num misto de crença e profano antinómicos.
Enquanto piquenicámos, à chegada do São Salvador, no seu novo poiso habitual, no Oudinot, depois da eucaristia, exibiu-se a Filarmónica Gafanhense, seguida do Festival de Folclore.
A degustação não foi só para os amigos do moliceiro, como para as gaivotas e gaivinas, que em voos rodopiados, nos sobrevoavam as cabeças. Confortaram-se com umas migalhas sobrantes, a que, em exercícios de mergulho, «chamavam um figo». Ao repasto subaquático, juntaram-se as tainhas saltitonas e assustadiças. Foi o enlevo dos fotógrafos. 
O tempo abençoou-nos com um domingo extraordinário, quente e calmo, em despedida de um Verão envergonhado…
Apesar de ter sido um belo e dignificante espectáculo, temos vindo a notar que as embarcações participantes têm sensivelmente, de ano para ano, vindo a diminuir.
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Alguns aspectos interessantes, captados no cortejo religioso:

 
O barco dos pilotos, Espinheiro, que abriu a procissão.
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A motora FAINA MAIOR, com o Sto. Amaro, à proa, num esbelto meia-lua, da capelinha da Senhora da Saúde, na Costa Nova.


Aspecto parcial da procissão, em que as embarcações desfilaram, agitando a ria e participantes, num cortejo de emoções.

 
A Senhora das Areias, em S. Jacinto, venerou a Senhora dos Navegantes, à sua passagem, saudando-a com chusmas de pétalas de flores multicolores.
 
A velhinha lancha de recreio PRAIA DA COSTA NOVA, restaurada com carinho, incorporada na procissão, conduziu os ranchos folclóricos participantes ao jardim do Forte.
 
Mais uma vez, a traineira JESUS NAS OLIVEIRAS, transportou a imagem homenageada, entre múltiplos enfeites, rodeada de pequenas embarcações de recreio, que não quiseram perder pitada do feérico espectáculo.
 
Em fim de festa fluvial, o rebocador MERCÚRIO, no seu alaranjado vistoso, transportou a Filarmónica Gafanhense, com o som festivo característico, provindo dos seus brilhantes e vistosos instrumentos.
Imagens – da autora do blogue, com excepção da de S. Jacinto, gentilmente cedida por Teresa Soares.
Costa Nova, 21 de Setembro de 2015
Ana Maria Lopes
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3 comentários:

riadomar disse...

É sempre com renovado entusiasmo que se planifica o dia da Senhora dos Navegantes. Repetem-se os ritos, é certo, mas é como se fosse novo, retomando o círculo até ao ano seguinte e por aí adiante. Há rostos que se repetem nas demonstrações de fé, da cultura e da assistência. Envelhecem um pouco de ano para ano. As imagens dos santos, essas é que não, imutáveis na sua beleza. As crianças dos ranchos crescem uns palmos; as rancheiros exibem mais umas rugas e nós também. É a vida celebrada: na fé, no acto de existir e nos sentirmos abençoados por isso.
A água rodeia tudo, com salpicos bentos lagunares - e nós regressámos a casa, purificados por um dia luminoso - que teve um sol radiante este ano! - as partilhas de refeições, os sorrisos e nenhum quebranto.
Para o ano lá estaremos, se Deus quiser, como diz o nosso povo. Teresa Soares

Ana Maria Lopes disse...

Obrigada pelo seu comentário. Adorei-o. Li-o e reli-o. Muito bem visto, observado e ainda mais bem escrito. Lá estaremos para o ano, assim pensamos. Beijinho.

riadomar disse...

Obrigada pelas suas palavras, tão amáveis. Sim, para o ano lá estaremos e esperemos que estejamos rodeadas de muitos barcos!